Os pescadores das Caxinas resgatados na sexta-feira de manhã, após terem estado cerca de 60 horas numa balsa em alto mar, chegaram ao início da noite a casa, tendo sido recebidos por centenas de pessoas.
Dos cinco tripulantes, apenas António Maravalhas não regressou, mantendo-se hospitalizado, porque o seu estado de saúde ainda inspira cuidados.
Prudenciano Pereira, Manuel Navegante e João Coentrão chegaram a Vila do Conde, acompanhados pelos familiares, num autocarro cedido pela Câmara Municipal local.
José Manuel Coentrão, o mestre do barco, chegou também esta noite, mas de automóvel, preferindo manter-se afastado dos jornalistas.
Ainda assim, centenas de pessoas não quiseram deixar de receber com muitos aplausos, lágrimas e cânticos os tripulantes do Virgem do Sameiro.
Em declarações à Agência Lusa, Prudenciano Pereira explicou que "não imaginava" uma receção assim, "com tanta gente e alegria".
Sem água, nem comida
Depois de mais de 60 horas preso numa balsa, o pescador contou que o tempo que passou em alto mar foi "muito difícil, porque não havia água nem comida" e adiantou mesmo que os pescadores pensavam que iam morrer.
Apesar do "medo, da fome e do frio", os seis pescadores que naufragaram passaram o tempo "a conversar, a dar coragem uns aos outros, a rezar e a chorar muito", frisou.
O barco terá começado a afundar terça-feira à noite, quando toda a tripulação dormia, com exceção do mestre, que "estava de vigilância", relatou.
Depois, José Manuel Coentrão terá dado o alerta que o barco estava a afundar-se e a tripulação "entrou para a balsa. Dez minutos depois, o Virgem do Sameiro afundou", recordou ainda emocionado o pescador.
A noite mais difícil foi a de quinta-feira, porque "estava mau tempo e o vento batia na balsa. Aí pensamos mesmo que era o fim", relatou ainda.
Apesar de ter vivido todo este pesadelo, Prudenciano Pereira diz que "está pronto" para voltar ao trabalho: "O mar é a nossa vida e não sabemos fazer mais nada", declara.
Também Manuel Navegante recordou os pormenores deste "pesadelo", dizendo que o que mais custou foi terem "avistado dois barcos que passaram junto à balsa, mas não nos viram apesar de termos dado sinal".
Esperança voltou sexta-feira
Já na manhã de sexta-feira, mal ouviram o helicóptero começaram a gritar: "Aí acreditamos que estávamos a salvo e iríamos regressar a casa".
Além da população das Caxinas, também o presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde esperava os pescadores.
Mário Almeida esteve com o mestre da embarcação, que lhe terá contado que "foram horas de muito sofrimento e que dormiam abraçados para se manterem quentes".
O fato de terem levado "um edredão para a balsa também os terá ajudado a manterem-se quentes e a salvo", contou ainda o autarca, reconhecendo que se os pescadores tivessem estado mais umas horas em alto mar, "o desfecho teria sido bem diferente".
60 horas à deriva
O 'Virgem do Sameiro' naufragou terça-feira à noite, ao largo da Figueira da Foz.
Os seis tripulantes do barco foram avistados e resgatados com vida ao final da manhã de sexta-feira, a bordo de uma balsa, a 12 milhas, cerca de 22 quilómetros a norte do cabo Mondego.
Depois de 60 horas à deriva, estes homens conseguiram chegar a casa são e salvos.
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